
Quando comecei a ouvir Radiohead, ainda não conhecia nada do que se passava à minha volta. Era enganado pelas miúdas, tratava mal os livros, falar em português correcto não era comigo. Temo bem que ainda hoje não perceba muito sobre o universo que me rodeia. Os meus problemas são muitos. Todavia, naqueles tempos do OK Computer, algo mudou na minha pessoa. Carregava no play do meu velho discman e sentia-me logo outro. Diferente, talvez seja essa a palavra. No ano de 1998, ainda não tinha barba. Karma Police só poderia ter um efeito devastador. Um homem a ser perseguido pela polícia. Sonhava com isso todos os dias. Olhava para o rabinho mais bonito da turma e pensava: devia ser um mártir, para que olhasses para mim. Thom Yorke estava na cruz. Perfeito. Poderia ser eu.
Os Radiohead fizeram de mim o miúdo que eu sempre quis ser. Um pouco à imagem de Jesus, com Marx na t-shirt. É parvoíce, reconheço. Mas reparem: naqueles tempos, o meu território era a aldeia. E eu queria ser urbano. Um ser solitário. Um pequeno diabo sofrido. Comecei a fumar. E a ouvir Black Star do grande Bends. Kid A também me chegou às mãos. Depois, Amnesiac. Este último álbum era para mim qualquer coisa que roçava a perfeição. Ia jogar à bola com Morning Bell na cabeça. Pablo Honey era, de todos, o mais fraco. Não vinha com nenhuma Exit Music à disposição de meninos depressivos.
Agora, In Rainbows. Não é mau. Já não tenho a adolescência a tapar-me o cérebro. Nem tudo o que estes rapazes fazem é genial. Nude é um som de antologia, equiparável ao melhor de Amnesiac. Videotape ouve-se bem. Parece que tem tiros de revólver dentro. Mas não é nada de especial. Também não se pode pedir a uma banda que seja sempre fantástica. Basta que o pobre Thom se disponha sempre a ficar pregado na cruz. De qualquer forma, em 1997, os Radiohead fizeram das melhores coisas que esta fraca cabeça já conheceu. Em 2007, não há Paranoid Android.