Margarida e o Mestre (The Master And Margarita na minha versão), de Mikhail Bulgakov, para além de ser uma obra-prima, inclui no seu interior uma das mais viciantes personagens da literatura contemporânea. Ivan Nikolaevich Ponyrev, Sem-abrigo de pseudónimo. Ivan, não se limitando a escrever poemas, é amigo do editor de uma revista para a qual contribui. Berlioz é o nome do editor. Um dia, poeta e editor encontram-se com o Diabo. Berlioz morre debaixo de um eléctrico, com a cabeça a rolar pela estrada. Ivan fica louco. É internado numa clínica. Entre cogitações e febres altas, sente o poeta que a sua escrita não é aquela que idealizara.
Glory will never come to someone who writes bad poems. What makes them bad?
O poeta sabe que a sua poesia não terá uma vida longa. Como se isso não bastasse, o pobre homem não acredita em nada do que escreve. Melhor seria se deixasse de escrever.
It was no longer possible to set anything right in his life, that it was only possible to forget.
Ivan Nikolaevich Ponyrev, apesar de ser considerado louco por jurar a pés juntos que manteve uma conversa com o Diabo, tem perfeita consciência de que o melhor para o seu futuro passa pelo esquecimento. Tendo em conta que não dá para alterar actos praticados no passado, a solução para ele é esquecer.
I won't write anymore poetry
Mais:
The poems I used to write were bad poems, and now I understand it.
O poeta desabrigado assemelha-se a uma pequena criança, a um pequeno guardador de verdades que se sente incompreendido por todos aqueles com quem se relaciona. A verdade sai-lhe da boca mas ninguém acredita. Perante a possibilidade de existir um demónio funesto, os médicos são unânimes em despachar o senhor dos versos para uma maca de hospital, com a medicação ordenada de antemão. Não há lugar para loucos nas ruas de Moscovo. Ivan fica para sempre com as histórias sobre o Diabo no hospício. Mais importante: não volta a escrever.