terça-feira, 18 de março de 2008

Limbo

Eu vi-Te como a alguém que se está a afogar
com a boca aberta
sobre o mundo.
Eu vi-Te,
mas por cima da ponte encontra-se uma nuvem, que não tolera
que vendamos a nossa casa e queimemos o nosso coração
por um dia de feira e fiquemos a ver como o corvo come a sua carne
e a vaca calca com os pés a sua própria porcaria.
Eu vi-Te,
o Teu rosto é o rosto do Inferno.
Eu vi-Te,
os Teus pés caminham pelas minhas florestas e causam sofrimento.
A Tua voz foge pelos meus quartos.
Eu vi-Te,
o Teu sangue torna-me doente: os meus cabelos decompôem-se
debaixo da Terra,
debaixo da terra maravilhosa,
que cheira à erva de fatídicas estepes.

- Thomas Bernhard, Na Terra e No Inferno