quarta-feira, 14 de maio de 2008

Astronauta

Tens seis anos. Queres ser astronauta. Se não fosses tão bem tratado pelos papás, não te imaginarias tão bem colocado no futuro. Talvez sonhasses com ocupações mais modestas, como a de bombeiro ou de polícia. Mas tens seis anos e não precisas de te preocupar com problemas que não te dizem respeito.

Daqui a uns anos, chegarás à conclusão de que, mesmo tendo muito dinheiro nos bolsos, não podes ter tudo. Não serás astronauta. Nem sequer de números perceberás. Serás artista. Artista. Agora, por não saberes o que isso quer dizer, olhas para os escritores, para os escultores e para os pintores com um ar de admiração. Vem-te à cabeça a possibilidade de os livros que o teu pai vai lendo tenham sido escritos por gente que vivia do campo e de puros ideais. É compreensível que assim penses: és novo.

Um dia, terás filhos e também eles chegarão a uma altura na qual quererão ser astronautas. Quando esse momento chegar, andarás na casa dos quarenta. Os teus papás já terão morrido. Não terás dinheiro. Precisarás da ajuda de todos os teus amigos (e inimigos). Acreditarás que o mundo é frio e feio. Escreverás poemas. Tu, que sonhavas com o topo do universo, serás um desgraçado, um homem sem jeito para nada que tenha utilidade económica.

Mas tudo isto acontecerá no futuro. Neste preciso momento, estás a comemorar o teu sexto aniversário. Mordes a vela do bolo e pedes um desejo: «Que seja astronauta.»