Chegaste a casa, bebeste uma cerveja, foste a correr para a casa-de-banho e defecaste. Como sabe bem deixar cair na água o peso que nos incomoda. Ao limpares o rabo, chegaste à conclusão de que, por pouco sujares o papel higiénico, eras asseado. Puxaste o autoclismo e lembraste-te de que não vivias sozinho em casa.
«Querida, cheguei», gritaste.
Ninguém te respondeu.
Ficaste a pensar durante alguns minutos com os olhos virados para o chão.
«Cheguei, amor.»
Sempre que chegavas a casa, costumavas encontrar a tua mulher na cozinha a lavar pratos ou na sala a ver filmes antigos. Sempre que abrias a porta de casa, vias os lábios da tua doce esposa a correrem de encontro aos teus. É lógico e perfeitamente compreensível que tivesses ficado desconfiado.
«Por onde andará ela?»
Nunca poderias adivinhar que a apanharias na cama com um estranho. Pior: nunca poderias ter imaginado que a tua mulher gostasse de esfregar o pénis de um estranho na boca, nos seios, na vagina, no ânus. Mas repara: estas coisas não podem ser imagináveis. Se fossem, haveriam definições exactas para o amor, para o ódio, para sentimentos que matam aos poucos, como se fossem veneno.