X foi ter com Y à cama e deu-lhe um beijo na boca. Como não viu grande interesse na cara do parceiro, levantou-se, dirigiu-se à cozinha e pegou na maior faca que encontrou. Queria matar Y. Este não sabia que as suas palavras ou gestos poderiam afectar o pobre cérebro de X. De qualquer forma, e como era uma pessoa deveras desconfiada, foi buscar a pistola que costumava guardar dentro de uma das gavetas da mesa-de-cabeceira. Quando X chegou ao quarto, Y apontou-lhe a arma e gritou: «Chegou o teu dia.» Disparou. Falhou. X foi a correr na direcção de Y e espetou-lhe a faca no pescoço. Não o matou logo. Y permaneceu durante largos minutos deitado na cama, a gemer, a chorar, a dizer que não merecia tão triste final. Depois, morreu. X não tinha mais ninguém na vida. Era impossível: só Y conseguia superá-lo em termos de doidice. Mas estava morto. Tão morto que deixou X cheio de saudades.
X abraçou-se ao morto e deu-lhe beijos na boca. E disse: «A bala que não me acertou será a bala que me levará para junto de ti.» E começou a dar cabeçadas na parede na qual o pedaço de metal se enterrara, a ver se conseguia morrer do tiro que Y disparara.