domingo, 21 de junho de 2009
As ligações
Com ligação.
Eu a correr atrás de ti. Estavas aborrecida com algo que me ouviras dizer.
Tu a tentares voar para longe. Não me suportavas. Chamavas-me todos os nomes. Dizias que era aborrecido, monótono, que todo o meu charme era gasto com outras mulheres.
Eu a pedir-te para não fugires. Ficaríamos numa pensão barata. Eu pagava, tinha dinheiro. Vimos um filme no cinema. Olhava-te de soslaio. Desprezo na tua cara.
Tu a entrares no comboio sem sequer te virares para trás. O amor esfuma-se até se transformar em pena. Neste caso, nem pena tinhas. Era o fim. Uma partida com o conhecido desfecho: «Ele nunca mais a viu.»
Eu sentado nas escadas da estação a chorar. Gritei tanto por dentro que não sei como não rebentei com algum órgão. Pensei em todas as nossas discussões. Sentia-me ridículo por não conseguir parar de chorar mas era inevitável. Apertava-se-me o peito por saber que não querias estar comigo. Decidi que nunca mais te procuraria. A menos que viesses a rastejar. Ou que nevasse no Quénia.
Tu meses depois muito arrependida. Ligaste-me. Primeiro, as chamadas anónimas. Depois, as palavras: «Foi um mal-entendido. Recomecemos.» Arrependias-te pelo desprezo. Querias voltar. Quebrar as regras do jogo e reatar a relação.
Eu a ouvir-te do outro lado do telefone. Pedias desculpa. Só me dava vontade de dizer: «Apanha o táxi e vem para aqui.» Mas controlei-me. Insististe. Muito. Voltei a ver-te.
Tu encostada à porta do meu quarto. Voltámos ao ínicio. Despiste-me. Despi-te. «Nunca mais me irei embora», murmuraste.