quarta-feira, 15 de julho de 2009

A carta dele

Não tenho cartas para te enviar. Quando as tentei escrever, trataram-me muito abaixo dos limites da dignidade. Fui arrastado pela lama por querer colocar inofensivas palavras numa folha de papel. Já não tenho papel, nem caneta, nem coragem para desafiar as regras instituídas por quem me prende. A pouca energia que me resta é canalizada para o trabalho. Não me canso de pensar em ti. A telepatia não tem funcionado. Não te escuto. Bastar-me-ia uma frase tua para ultrapassar as adversidades. Sentir novamente o teu cheiro ajudar-me-ia a devorar as feras. Continuo apaixonado. Ainda me lembro da tua primeira aparição. Retrocedo no calendário, reentro no elevador para te convencer a ficares do meu lado. Talvez pareça patético mas não tenho caneta, nem papel, nem envelope, nem marco do correio. Peço desejos: voltar ao dia em que te vi a chorar com um lenço branco na mão, sair do comboio e desistir de salvar o mundo.