Se pudesse voltar atrás, mudaria tudo. Quando me perguntaste se me arrependia de algo, disse que me arrependia de tantas coisas que antes valia fingir contentamento. Nunca mais te vi. Seguiste o teu caminho e eu o meu. Recordo aquilo que desapareceu. O que fazemos quando nos sentimos enjoados de nós próprios? Se vomitar fosse a solução, passaria as manhãs agarrado à sanita. O nojo não descola. Os meus herdeiros não precisam de saber o nome do pai. Refugio-me na caverna para fugir da luz. O bicho a olhar para a mulher enterrada. O esquife de papel vegetal que o bicho tenta rasgar com as garras. Digo o teu nome, Eva. Voltemos ao momento em que cravaste o punhal no peito. O tempo contado ao contrário. As sombras falam, têm uma cara de mulher que diz repetidamente: «O fim não era aqui.» Dez anos contigo são dois minutos. Mesmo que tivéssemos partilhado um milénio inteiro, não teria chegado. Sei que muito mudou mas, se tivesse uma bicicleta, acompanhar-me-ias num passeio pelo campo? Rebolar no feno depois de roubar os cachos de uva da vinha do senhor que persegue jovens insolentes com uma enxada. Mastigar as uvas com o sol a bater na cara e cuspir os caroços. O mármore é pesado. Custa desenterrar um cadáver. A marreta não parte a pedra. O mármore fere as mãos. A testa não parte a pedra.