segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Eat Yourself

Se pudesse voltar atrás, mudaria tudo. Quando me perguntaste se me arrependia de algo, disse que me arrependia de tantas coisas que antes valia fingir contentamento. Nunca mais te vi. Seguiste o teu caminho e eu o meu. Recordo aquilo que desapareceu. O que fazemos quando nos sentimos enjoados de nós próprios? Se vomitar fosse a solução, passaria as manhãs agarrado à sanita. O nojo não descola. Os meus herdeiros não precisam de saber o nome do pai. Refugio-me na caverna para fugir da luz. O bicho a olhar para a mulher enterrada. O esquife de papel vegetal que o bicho tenta rasgar com as garras. Digo o teu nome, Eva. Voltemos ao momento em que cravaste o punhal no peito. O tempo contado ao contrário. As sombras falam, têm uma cara de mulher que diz repetidamente: «O fim não era aqui.» Dez anos contigo são dois minutos. Mesmo que tivéssemos partilhado um milénio inteiro, não teria chegado. Sei que muito mudou mas, se tivesse uma bicicleta, acompanhar-me-ias num passeio pelo campo? Rebolar no feno depois de roubar os cachos de uva da vinha do senhor que persegue jovens insolentes com uma enxada. Mastigar as uvas com o sol a bater na cara e cuspir os caroços. O mármore é pesado. Custa desenterrar um cadáver. A marreta não parte a pedra. O mármore fere as mãos. A testa não parte a pedra.