domingo, 28 de outubro de 2007

Falhar o alvo




Por mais que tente acertar nas palavras, nas vírgulas, nos pontos finais, há sempre qualquer coisa que passa ligeiramente ao lado. E parece-me que os erros que me acompanham nas minhas aventuras com a caneta não residem naquilo que se pode ver, mas naquilo que está escondido. É no cérebro que ocorrem todas as minhas falhas. Mas não o culpo. Acreditem que tudo o que idealizo em termos de escrita é da maior das perfeições. Em termos de amor, o meu pensamento parece a conhecida música de Nat King Cole. A violência parece a guerra real, a bomba a partir o osso do soldado. A morte assemelha-se ao idoso que, numa maca de hospital, farto de contar os apitos da máquina, se deixa cair num sono do peso de toneladas. A minha escrita, enquanto estiver no cérebro, é perfeita. O pior é a realidade. Vivo atormentado com a realidade. Sofro ao pensar que vou estragar folhas em branco com a tinta das minha canetas. É uma pena que assim seja. Mas, como costumam dizer os antigos, é a vida.