sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Um autocarro para lado nenhum



O dia não comecou bem. Acordei cedo. Durante o almoço, engoli demasiados bifes. À tarde, a ver televisão, constipei-me. Por volta das sete da tarde, lembrei-me de apanhar um autocarro para a província. Fui a correr do Rato para o Campo Grande. Companhia Barraqueiro. Nota de cinco euros menos dez cêntimos. Torres Vedras com ele. Dentro do transporte público, deu-me para espirrar. Às tantas, farto de repetir os mesmos movimentos, e para que ninguém pensasse que a doença andava a monte, decidi fazer força para conter a vontade de rebentar pelo nariz. Deu-me para transpirar. Faltavam trinta minutos para acabar a viagem. Ainda por cima, o senhor que se sentava à minha direita decidiu começar a dormir e a verter saliva para cima da sua gravata amarela às bolinhas azuis. Pior: começou a encostar a sua gorda perna esquerda à minha perna direita. Temi pela saúde. Momento de perigo. Soltei um pigarro. O homem da gravata acordou meio assustado e pediu desculpa. «Vá lá, ainda não está tudo perdido», pensei. Mas estava. O suor não parava de me escorrer pela testa. Tentei dormir. Não conseguia. Peguei num livro. Cansado. Que fazer? Comecei a pedir a Deus para que a maldita viatura chegasse a Torres. Ia nisto quando soltei um valente espirro. Provavelmente, deve ter havido algum transeunte que tenha avistado um pouco de gosma a sair-me da boca. Ou não. Transpirava cada vez mais. O autocarro não parava. A A8 parecia o caminho para o Inferno. Lembrei-me de tomar alguma coisa para a gripe. Não tinha nada comigo. «Burro», veio-me à cabeça. Lá acabei por adormecer. Quando acordei, dei de caras com as luzes da cidade onde cresci. Estava salvo. Até o homem da gravata bufou de alegria quando viu que Lisboa estava longe. Houve gente que disse yes. Houve gente que tirou macacos do nariz e que comeu.