terça-feira, 19 de maio de 2009

A carta dela

As tuas cartas não me têm chegado. Se me escreves, não te leio. Acordo mais cedo para esperar um carteiro que não me traz nada. O teu silêncio preocupa-me. O que ainda me vai esperançando é o facto de ainda cá não terem vindo anunciar a tua morte. Enquanto cá não vierem, acreditarei que continuas vivo. Mesmo que cá venham, não acreditarei. Há seis anos, quando te disse que eras o tal, não exagerava. A possibilidade de estares morto não é real. Dizerem-me que morreste é como jurarem-me que amanhã não haverá noite. Sei que virás. Não pertences a nenhum outro lado. Chegará o tempo de esquecer e de recomeçar. Mais cedo do que tarde bater-me-ás à porta com montes de histórias na sacola. Mas não escreves. Não recebo as tuas cartas. A tua língua é a do silêncio. Tenho pensado. Se regressares amputado, inválido, gastarei o resto dos meus dias a cuidar de ti. O que me agonia não é isso. As saudades são duras. Sofro imenso. Ganho cabelos brancos. Rugas. Eu sei, sou nova, mas o sofrimento é monstruoso. Achar-me-ás feia quando chegares?