quarta-feira, 20 de maio de 2009

Deixa-me, caçador

O animal perseguido corre mas não escapa às garras do caçador que o persegue. Encolhe-se dentro da toca. Ao caçador basta esticar o braço para puxá-lo. Não corras, animal, que foste apanhado. Quantas vezes precisa o animal de fugir? O oxigénio fora dos pulmões. Vem energia, faz-me descansar para continuar a correr. O caçador vem a caminho. O furacão. Persegues-me, caçador, e não sei que possa fazer para me deixares em paz. O caçador aproxima-se. Ágil, o vilão. Não me apanhes. Escondo-me na toca. O buraco de lama. Não há hipótese. Escapa-te. Perdi o autocarro mas não me culpes por tudo. Aquilo que se perdeu não foi menos do que aquilo que se ganhou. Ganhou-se muito. Uma vitória de cada vez. Deixa-me ir, caçador, não te voltarei a desiludir. A tua mão no meu lombo. Magoas-me. Os erros do passado não foram esquecidos. As consequências. Funestas consequências. Castiga-me. Bate forte. O caçador cada vez mais perto. Bicho parvo, esfolo-te vivo. O aperto na gravata. Os momentos bons não existem. A toca escura e os dedos que descem ao pouco até tocarem na testa da vítima. O castigo. A justiça apanha-te sempre, e é dura, tão dura, que te bate como se fosses imune a qualquer dor. Morde as ervas, morde-as, bicho feio. A culpa vem, acerta-te em cheio. O caçador com a presa degolada. O sacrifício de um é a salvação de todos. A família janta.