sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A queda do velho

O velho caiu. As pessoas olharam para ele com indiferença. O velho levantou-se sozinho. Cravou as unhas nas pedras da calçada para poder ter energia nos joelhos. O velho era doente. Dormia com uma máquina de oxigénio. Tomava quinze comprimidos por dia. Era frágil. Enquanto sacudia o pó das calças, pensou: «Não sirvo para nada.» Estava revoltado por não o terem ajudado a sair do chão. «Nem me perguntaram se estava bem. Quero morrer. Juventude, infância, velhice, está tudo nos anos. A única coisa que realmente não desaparece é o tempo. Nunca me abandonou, o tempo. Tornou-me decadente.» Voltou a cair. Tropeçou e bateu com a testa na calçada. Desmaiou. Ninguém parou para ajudá-lo. Pensando que chegaria atrasado ao trabalho se se desviasse do seu trajecto, um sujeito muito apressado passou por cima dele. Quando o velho acordou, era noite escura. Não se via vivalma. Passou a mão pela testa. Muito sangue nos dedos. O sangue vermelho e quente na pele. «Não matou.» Levantou-se, sacudiu-se e voltou para casa.